Fundador
da Congregação do Santíssimo Sacramento
Apóstolo
da Eucaristia
Criador
da Adoração Perpétua do Santíssimo Sacramento
(04/02/1811
- 01/08/1868)
Em
1804, apareceu no vilarejo de La Mure um amolador de objetos, acompanhado de
sua filha de cinco anos de idade, órfã de mãe, que perguntava de casa em casa
se havia utensílios para serem afiados por seu pai.
Este
tinha por nome Julião Eymard, originário de outra localidade, Auris, onde se
casara e tivera seis filhos desse casamento. Perseguido pelos
"patriotas" da Revolução Francesa, perdeu boa parte de seu
patrimônio. Com a morte da esposa, em 1804, resolveu tentar a sorte noutro
lugar.
Deixou
então cinco filhos com pessoas amigas e saiu à procura de sustento, levando
apenas a caçula. O espírito de solidariedade católica, que ainda havia em La
Mure, facilitou o estabelecimento de Julião naquele local, onde prosperou e
contraiu novas núpcias.
De
seu segundo casamento, nasceu Pedro Julião Eymard em 4 de fevereiro de 1811.
Com
o correr dos anos, o menino mostrou-se inteligente e jeitoso, tornando-se a
grande esperança do pai para fazer prosperar o negócio que havia montado
naquela localidade: uma usina de azeite.
O
conquistador de almas para Deus
O
menino, porém, sentia que era chamado para algo de bem mais elevado do que ser
fabricante de azeite. Após várias dificuldades postas pelo pai, conseguiu
entrar no seminário para seguir o que sua vocação lhe pedia: tornar-se
sacerdote.
Após
ordenar-se, celebrou sua primeira Missa em 26 de outubro de 1834.
O
novo sacerdote cativava as almas. Após o ofício divino, saía com os fiéis e
ficava em frente à igreja, conversando com eles e os instruindo. Operavam-se então
conversões impressionantes.
Em
1839 decidiu entrar na Sociedade de Maria para desenvolver cada vez mais sua
devoção à Sagrada Eucaristia, a paixão de sua vida. Sua irmã -- aquela
menininha que percorria as casas pedindo trabalhos -- insistiu com ele para que
ficasse mais um dia em casa, antes de partir para seu novo destino. "Deus me chama hoje, amanhã poderá ser tarde demais" foi a resposta. E seguiu em frente.
Nessa
época a todos impressionava sua piedade profunda e terna, enquanto no seu
caminhar havia algo de harmonioso que lhe conferia um aspecto militar.
Pregava
a Eucaristia e somente a Eucaristia. Porém o fazia de maneira pessoal, concreta
e viva, sem muitas especulações meramente teóricas e abstratas. Sua pregação
tocava de modo especial as necessidades espirituais de seus ouvintes. Sua
palavra de fogo esclarecia, abrasava e ganhava as almas. Seus sermões eram
verdadeiras meditações íntimas que lhe saíam pelos lábios, expressão de sua
intensa vida interior.
Sua
alma era de tal maneira luminosa, que pessoas das mais diversas condições
sociais e econômicas, bem como das mais distintas profissões, vinham lhe pedir
luzes fora e dentro do confessionário.
"Fogo"
eucarístico nos quatro cantos da França
Certo
dia, em 1853, durante a ação de graças, por solicitação de Nosso Senhor, ele se
ofereceu por inteiro a Deus, recebendo então muitas graças, consolações e
forças para realizar a tarefa que lhe estava destinada.
Seis
anos mais tarde, confidenciou que naquela ocasião prometera a Deus que nada o
reteria, mesmo que precisasse comer pedras e morrer em um hospital, trabalhando
em Sua obra sem consolações humanas.
Era
o primeiro passo para a fundação de seu Instituto, dedicado à adoração perpétua
do Santíssimo Sacramento. As dificuldades fizeram-no soltar essa exclamação:
"Chego como um soldado do campo de batalha, não se achando vitorioso, mas
cansado e esgotado pelo combate".
E
anunciou ao Arcebispo de Paris que queria pôr fogo nos quatro cantos da França,
e especialmente em Paris, com a comunhão dos adultos.
Santo
Cura d'Ars profetiza sobre São Pedro Julião!
O
Pe. Eymard e o Cura d'Ars se conheciam e se tornaram verdadeiros amigos em
Nosso Senhor Jesus Cristo, cada um procurando estar a par das atividades do
outro.
O
Cura d'Ars teria mesmo profetizado que o Pe. Eymard sofreria muito, inclusive
perseguições de seus melhores amigos. Mas que a congregação por ele fundada
seria próspera e se espalharia por todos os países, apesar de tudo e contra
todos...
De
fato, na obra recém-fundada continuava faltando quase tudo e as deserções
começavam. O fundador tornou-se objeto de críticas e perseguições.
Escreveram-lhe cartas extremamente mortificantes, profetizando quedas e
catástrofes. Como se isso não bastasse apareceu uma ameaça de despejo. Obrigado
a se afastar por cinco semanas para tratar da saúde, encontrou a casa com menos
gente e com traidores.
Em
Roma: êxtase e aprovação de sua obra
Tinha
um culto entusiasmado pelo Papado. E não foi sem emoção que se dirigiu a Roma
para pedir a aprovação de sua obra, o Instituto do Santíssimo Sacramento.
Uma
feliz coincidência facilitou as coisas. Estava orando no altar da Confissão, na
Basílica de São Pedro, quando entrou em êxtase e não percebeu um cortejo que se
aproximava. Era Pio IX, que ia rezar ali também. Os numerosos fiéis que se
encontravam no local, se afastaram para dar passagem ao Papa, ficando somente
um padre austero ajoelhado. Quando voltou a si, todo confuso, refugiou-se em um
canto; o Papa acabara de se retirar.
No
dia seguinte recebeu o Breve Laudatório, assinado na véspera pelo Sumo
Pontífice!
Desejava
ter a voz do trovão
Sua
palavra era um fogo de caridade e de fé. Havia um tal brilho de santidade em
seu olhar, que se pensava em Nosso Senhor. Mesmo antes de começar a falar, já
tocava as almas pela sua simples presença. Mais do que a fé, era quase a visão
real do Divino Mestre que ele imprimia nas almas. Parecia ver o que falava.
Quanta
vida, quanta luz! Seus ouvintes mantinham o olhar fixo na sua pessoa durante
toda a pregação. Diz-se que ele desejava ter a voz do trovão para ser entendido
por toda parte e por todos.
Traçava,
para cada sermão, os limites, as divisões e o encaminhamento do raciocínio,
mas... na hora entrava a palavra e a inspiração do coração. Preparava suas
homilias diante do Sacrário pois, segundo ele, uma hora na presença do
Santíssimo Sacramento valia mais do que uma manhã de estudos nos livros.
Lia
os corações, via à distância, profetizava...
Não
era raro dizer a uma pessoa os pensamentos que tivera; e aconselhá-la de acordo
com tal discernimento.
Certo
dia, uma moça da sociedade foi procurá-lo, sem que os pais soubessem, para
pedir-lhe um conselho sobre sua vocação. Ao chegar, soube que ele se encontrava
em sua hora de adoração ao Santíssimo, durante a qual não costumava atender
absolutamente ninguém. Resignada, dirigiu-se à igreja e o viu de costas,
ajoelhado, em oração. Nesse mesmo instante Eymard levantou-se, indicando à moça
o caminho do confessionário. Comentou depois que sentira que uma pessoa o
procurava e tinha necessidade de ajuda.
Entre
1860 e 1868 previu várias vezes os desastres da guerra franco-prussiana e o
movimento revolucionário da Comuna de Paris.
Em
Saint-Julien de Tours, o Pe. Eymard deu provas de ser santo, vidente e profeta
diante de um auditório que o ouvia pela tarde e pela manhã, sempre recolhido e
sempre entusiasta.
Certo
dia, duas horas antes da procissão de São Julião, o céu escureceu e se armou
uma tempestade. O Pe. Eymard, calmo, ordenou que a procissão saísse e...
surpresa! Em lugar dos raios e da chuva que já haviam começado, aparece céu
azul e um grande sol! "Milagre"! Foi a palavra que aflorou a todos os
lábios.
Exorcista,
era perseguido pelo demônio
Muitas
vezes passava as noites lutando contra o demônio. Pela manhã, no seu quarto
havia móveis quebrados ou avariados e sinais em sua face. Comentava que os
golpes do demônio são secos como se bate em mármore, mas a dor desaparecia com
a pancada.
Em
1861, após comer parte de uma maçã oferecida por uma mulher tida como mágica,
uma menina ficou possessa. A mãe, ouvindo falar de Eymard, foi procurá-lo. Este
enviou uma camisa e um gorro com a medalha de São Bento, mas a menina os
destroçou com seus dentes. O Padre então benzeu um pedaço de pão e o enviou à
casa da menina, para que o engulisse na hora em que estaria celebrando uma
missa por ela.
Quatro
homens forçaram-na a engulir e ela começou a vomitar um liquido preto,
cheirando a enxofre, em tal quantidade que escorreu até o chão, ficando então
curada. O demônio foi derrotado duplamente, pois o pai de menina, que se
encontrava afastado da religião, impressionado, confessou-se, comungou e voltou
à prática religiosa.
Incompreendido
pelos próprios filhos espirituais
No
final de 1867 repreende os seus por não irem vê-lo com mais freqüência e mais
confiança, a fim de pedir uma comunicação mais abundante do espírito da sua vocação.
"Nada me perguntais. Quando eu não estiver mais aqui, ninguém terá a graça
da fundação. Interrogai-me, usai mais de mim".
Em
1868 escreveu em suas notas que iria fazer parte da corte celeste, participar
da bondade de Deus. Um trono lhe estava assegurado no Céu e seu nome estava
inscrito no livro da vida; os Anjos e os Santos o esperavam no lugar dos
Bem-aventurados e o chamavam de irmão.
Porém,
para alcançar um tal píncaro é preciso não só sofrer, mas saber sofrer. Assim,
seus últimos anos de vida foram repletos de sofrimentos, ocasionados estes em
boa parte por seus próprios religiosos que já não tinham confiança em seu Santo
Fundador. Disse ele nessa penosa conjuntura: "Eis-me aqui, Senhor, no
Jardim das Oliveiras; humilhai-me, despojai-me; dai-me a cruz, contanto que me
deis também o vosso amor e a vossa graça".
No
dia 1º de agosto de 1868, às 14:30 hs, exalou seu último suspiro. Tinha 57 anos
e meio. Morreu em sua cidade natal, La Mure, na mesma casa onde nascera. Sua
congregação tinha então cinco casas na França e duas na Bélgica, com cinqüenta
religiosos.
"Nosso
santo morreu!" foi o grito que se ouviu nas ruas e nas casas daquela
pequena localidade. A população inteira desfilou diante de seus restos mortais.
As pessoas iam com as duas mãos cheias de objetos para serem tocados no corpo
do Santo. Seus olhos, que não foram fechados por respeito, guardavam uma
expressão extraordinária de vida a ponto de dar a falsa impressão de que não
morrera.
Foi
beatificado solenemente por Pio XI no dia 12 de julho de 1925 e canonizado por
João XXIII em 9 de dezembro de 1962.